segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Mudança na atenção ao parto vai diminuir cesáreas, diz Ministério da Saúde

Para reverter o alto índice de parto cirúrgico, que já representa 52% dos nascimentos no Brasil, o governo quer qualificar os profissionais e melhorar o atendimento à gestante


Mais da metade dos bebês brasileiros nasce de parto cesárea, segundo pesquisa do Ministério da Saúde. Em 2010, o número chegou a 52% somando a rede pública e a privada. “O aumento da cesárea é uma questão cultural. O modelo hoje adotado pelo Brasil induz a esse aumento, porque é centrado no mito da tecnologia, como mais segura do que a própria natureza, e vários outros mitos em relação ao parto”, explica Esther Vilela, Coordenadora de Saúde da Mulher, do Ministério da Saúde. Em entrevista à CRESCER, Esther falou sobre a principal iniciativa do governo para melhorar a situação do parto no Brasil, a Rede Cegonha. “Vamos promover a qualificação da rede de atenção à mulher e ao bebê, constituir um novo modelo de atenção ao parto e a reduzir da mortalidade materna e neonatal”. Os cerca de R$ 9,4 bilhões do projeto devem ser investido até 2014. Saiba mais na entrevista completa.

CRESCER: O que o Ministério da Saúde está fazendo com relação ao alto índice de cesáreas no Brasil?

Esther Vilela: A Rede Cegonha é a estratégia atual do governo brasileiro para enfrentar desafios como o aumento da cesárea, a mortalidade materna e neonatal e a mudança necessária do nosso modelo de atenção ao parto e nascimento. E nós sabemos que para reduzir essa mortalidade, precisamos enfrentar o desafio do alto índice de cesárea que temos no país. Uma coisa vem junto com a outra. O aumento da cesárea é uma questão cultural. O modelo hoje adotado pelo Brasil induz a esse aumento, porque é centrado no mito da tecnologia, como mais segura do que a própria natureza, e vários outros mitos em relação ao parto. No sistema público, o modelo de atenção ao parto e nascimento é muito traumatizante, precisamos melhorar os ambientes das maternidades, ressignificar o momento do parto como um momento de celebração das famílias, e trazer mais o protagonismo e a autonomia das mulheres para essa cena.

C: E como vão funcionar essas iniciativas da Rede Cegonha na prática?

E.V.: Começa com a qualificação do pré-natal, com a captação precoce da gestante, o incremento dos exames, como o teste rápido de gravidez, sífilis e HIV, a criação de um mapa de vinculação, para que a gestante saiba já no pré-natal onde vai parir, para diminuir e acabar com a peregrinação das mulheres no momento do parto. E nas maternidades estamos investindo recursos para adequar os ambientes ao que hoje são as boas práticas de atenção ao parto e nascimento: o acolhimento completo da gestação de risco, a privacidade das mulheres no momento do parto, a garantia do acompanhante na hora do parto, o acesso a métodos não farmacológicos de alívio a dor, como a banheiro e o chuveiro, um espaço para ela caminhar, outros espaços para que ela possa ter o bebê em outras posições. Todas essas adequações nós estamos propondo pela Rede Cegonha, e também a construção da Casa de Gestante e Bebê, que são espaços para gestantes de risco ficarem próximas às maternidades sem precisar ocupar um leito e ficar dentro do hospital, e de centros de parto normal, que são espaços também ao lado das maternidades, mas diferentes do ambiente hospitalar, nos quais a mulher pode ter o seu bebê com segurança, com acesso a uma cesárea caso precise, mas num ambiente mais leve, mais parecido com o domicilio. Estamos investindo também na formação dos profissionais já com esse novo olhar, na qualificação dos profissionais que já estão atuando. Tudo isso está sendo previsto e construído na Rede Cegonha com propostas ousadas para os Estados e municípios aderirem ao programa, e a resposta tem sido positiva com relação às mudanças.


C: Existe uma previsão de quando as ações começarão a acontecer de fato?

E.V.: Algumas regiões já mandaram os planos de ação regional para o Ministério, que está avaliando tecnicamente para repassar os recursos para que essas regiões qualifiquem a sua rede de atenção materna e infantil dentro dos critérios da Rede Cegonha. É um processo demorado, mas muitas regiões já estão se mobilizando para pensar em mudanças independente disso. É claro que constituir uma rede é um processo, e não são tantas estruturas que precisamos mudar, mas sim os processos que perpassam essas estruturas. E para isso precisamos sentar com as equipes de cada região, pactuar, combinar, tirar dúvidas, formar conceitualmente qual é esse novo paradigma.

Fonte: Revista Crescer